sábado, 28 de março de 2009

Autismo

Finalmente arranjei emprego, vou ser monitora de um ATL, pensava eu. Fui ontem visitar o espaço, falar com a coordenadora e conhecer os colegas e meninos e descobri que a minha função não é a que eu pensava.
Quando lá cheguei os meninos, entre os 3 e 11 anos, fizeram uma festa enorme e todos queriam saber quem era a monitora nova, estava na sala a falar com a coordenadora e entrou um menino, já com 11 ou 12 anos, comeu alheio ás pessoas que estavam na sala, falou sózinho, gesticulou e foi-se embora, percebi logo que era autista mas confirmei, sim é autista e não é o único, há mais 5.
Vai ser essa a minha função, vou ser responsável por 2 meninos autistas com 3 anos, um não fala e ainda usa fralda e a outra fala pelos cotovelos e é mais independente. O meu trabalho será acompanhá-los e tentar que eles se integrem, na medida do possível no resto da sala do jardim de infância.
Estive a ler alguns artigos sobre o assunto para estar mais preparada e descobrir formas de chamar a atenção deles, seja como for, estou mesmo muito entusiasmada, sei que vou errar, não vai ser fácil mas trabalhar com crianças é a coisa mais gratificante que existe, estar presente e poder fazer a diferença, por mais infíma que seja, na vida de alguém é qualquer coisa. Era o que eu queria, este trabalho caiu do céu, não paro de pensar nisso e não vejo a hora de começar. Estou ansiosa para que chegue segunda-feira para estar com eles.

quem é?

No domingo passado fui visitar a minha família á outra margem, almoçámos (sem o meu irmão que amuou), bebemos um copinho de vinho e depois o cafézinho domingal, no café de sempre, com as mesmas pessoas de sempre, as perguntas de sempre "tás tão crescida e bonita" enfim, coisas que me aborreciam mas hoje se não perguntam é estranho, faz parte.
O barreiro está diferente, os miudos que passeavam de mãos dadas com os pais são os adolescentes de hoje, grandes, giros e com vida social, fumam um cigarrinho e bebem um café, dá-me vontade de ser como as velhas chatas e dizer "estás tão crescido" bolas, é tão estranho.
Fui ainda visitar a minha antiga casa, quando cheguei á porta reparei que os cortinaos eram outros, o tapete de entrada era diferente e até a fechadura era nova, comecei a chorar. A casa onde eu cresci e de onde tenho boas e más memórias está habitada por estranhos, com os seus filhos a brincarem no meu quarto, acordam todos os dias com a vista que foi minha durante anos, comecei a chorar ainda mais.
Fiquei com saudades de tudo, até das discussões entre mim e a minha mãe e o meu irmão, dos meus labradores a correrem pela casa fora e a destruirem as minha preciosas coisas, vim-me embora a chorar. Já não pertenço lá, continua tudo igual, as pessoas frequentam os mesmos locais e têm as mesmas conversas de caca mas para mim tudo mudou, sou uma visitante, os miudos olham para mim como se eu fosse uma estranha e sussurram aos ouvidos "quem é?".
Se eles soubessem que já passei por aquilo tudo, já tive os meus namoricos e achei-me a pessoa mais crescida do mundo porque fumava, bebia e saía á noite, estudava em Lisboa e era a maior. A minha familia era e é conhecida e todos sabiam quem eu era, a filha do Eugénio e a neta do Ruivo, agora sou a irmã do Miguel que mora em lisboa, vem cá de vez em quando.