segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

lares de idosos

Ontem fui a Estremoz visitar a avó do meu namorado que, com 86 anos, chegou a altura de ir para um lar de idosos.
Após reunião de familia, chegaram á conclusão que a velhota não podia viver sózinha, porque as simples tarefas domésticas se tinham tornado impossiveis de executar. Então e uma senhora que vá lá a casa ajudar? Também experimentaram mas ao que parece, a D. Irene (velhota em questão) recusava-se a abrir a porta a quem quer que seja pois continuava a achar-se capaz de fazer tudo. resolveram então começar a procurar lares na zona de Lisboa, para além de serem um balúrdio, cerca de 1200euros\mês, eram verdadeiros "depósitos" de velhos, as salas de convívio eram decrépitas, os velhotes pareciam estar drogados e mal se mexiam sentados no sofá em frente á televisão a olhar para o vazio. (Pode parecer uma comparação horrorosa mas lembrei-me de repente dos animais selvagens que são transferidos para os Zoos, dizem que também perdem a força da vida no olhar, que ficam tristes e que se limitam a viver) Na minha opinião, que vale tanto quanto isso, para estes velhotes, isso já não é viver, é sobreviver, dependem de alguém para tudo e as pessoas que mais amaram toda a vida abandonam-nos ali, vão visitá-los um Domingo por mês e tratam-nos como estúpidos, só porque a memoria já lhes falha. Adiante, como filhos e familiares preocupados, encontraram este lar em Estremoz, pertence ao Cofre e apesar de ser um lar, reúne todas as condições sanitárias e mesmo em termos de ambiente, parece um hotel de 2 ou 3 estrelas, não fossem andar os velhotes de um lado pro outro e eu não diria que era um lar. O quarto são individuais, espaçosos, bastaontes harmoniosos e modernos, têm uma vista brutal onde só se ouvem passarinhos e ovelhinhas mas a ideia de "depositar" algum familiar meu em algum lado, por mais confortável que seja, ainda me faz confusão. Eu, espero que os meus avós que ainda são jovens, nunca deixem de conseguir fazer as tarefas diárias e se o fizerem que tenham um ao outro para ajudar mas de qualquer das formas, era incapaz de não cuidar dos meus avós. Há sempre soluções. Vinham cá para casa se fosse necessário, ou pelo menos passavam cá o dia comigo. Eles cuidaram de mim quando eu era pequenia e continuam a cuidar, estão sempre lá para mim e o mínimo que eu posso fazer é retribuir.
Senti-me mal ao visitar a D. Irene, porque ela confunde as coisas, pergunta constantemente quando vai para casa e quando é que o médico lhe dá alta. Os velhotes na sala de convívio olharam para nós na esperança que fossemos os netos deles, fez-me mesmo confusão e vim o caminho com a imagem dos "olhos sem vida" na cabeça. Pensava ainda se seria a última vez que a íamos ver, espero bem que não mas, pelo que consta alguns deixam de lutar, sentem-se abandonados e desistem, não querem estorvar. É triste pensar que apenas nos resta a morte e que esta seria a solução de muitos problemas.

Um comentário:

  1. "eram verdadeiros "depósitos" de velhos, as salas de convívio eram decrépitas, os velhotes pareciam estar drogados e mal se mexiam sentados no sofá em frente á televisão a olhar para o vazio."

    Tive uma experiência muito semelhante este fim-de-semana no lar de Alter do Chão. Um conjunto de pessoas com pouca (ou nenhuma) noção da sua própria realidade, contando tristemente os dias para a morte, numa monotonia incrível. Enfim espero morrer antes de chegar a esse estado.

    C.F.

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